Os cientistas planejam concluir essa fase até 3 de agosto e, depois, realizar a terceira etapa dos testes de forma paralela com a vacinação dos médicos. Segundo o grupo, o desenvolvimento da vacina foi rápido porque ela é uma versão modificada de uma já criada para combater outras doenças. O Ministério da Defesa da Rússia afirmou que soldados do país serviram como voluntários em testes em humanos.
As autoridades russas garantem também que os dados científicos sobre o medicamento estão sendo compilados e serão disponibilizados para revisão e publicação no início de agosto.
— A Rússia chegará lá primeiro — afirmou o diretor do fundo que financia a pesquisa russa de vacinas, Kirill Dmitriev.
De acordo com a CNN, ao contrário da maioria das imunizações em desenvolvimento, a russa se baseia em dois vetores, não em um, e os pacientes receberiam uma segunda injeção de reforço.
Promessa gera desconfiança
A notícia de que a Rússia aprovaria uma vacina contra o coronavírus na primeira quinzena de agosto causa alvoroço desde sua divulgação, nessa terça-feira, 28. Autoridades do país informaram que as doses, produzidas pelo Instituto Gamaleya, que tem sede em Moscou, estariam disponíveis para profissionais de saúde já no dia 10 do próximo mês. A informação, no entanto, gera desconfiança da comunidade científica.
As dúvidas pairam, principalmente, por que o país ainda não publicou em revista científica nenhum estudo que mostre os resultados das fases um e dois, praxe para o avanço para a última etapa, a terceira, na qual um número maior de indivíduos recebe as doses para avaliação de segurança e eficácia. Conforme informações da rede CNN, o imunizante russo estaria na segunda etapa, com previsão de conclusão prevista para 3 de agosto. A terceira fase, diz a rede, seria conduzida em paralelo.
O diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Renato Kfouri, não acredita que seja possível cumprir esse prazo. Porém, completa, se a Rússia conseguir, dificilmente, uma agência internacional aprovaria as doses. “Mesmo que sejam estudos de fase dois ou três, precisa de alguns meses para cumprir o rigor científico. A meu ver, não há condição de ser aprovada por agências internacionais, como o Food and Drug Administration (FDA, órgão norte-americano similar à Agência Nacional de Vigilância Sanitária do Brasil, a Anvisa). Para mim, é fake,” fala.
Entretanto, pondera o médico, pode-se pensar na hipótese de a Rússia autorizar internamente a vacina, aos moldes do que fez a China ao liberar uma vacina experimental para militares.
Estudos na última fase
Na manhã desta quarta-feira, 29, em entrevista ao programa Timeline, da Rádio Gaúcha, a diretora-assistente da Organização Mundial da Saúde (OMS) para a área de medicamentos, vacinas e produtos farmacêuticos, Mariângela Simão, destacou que desenvolver uma vacina é um processo longo, que leva, em média, 10 anos.
— Eu diria que um ano é perto. Não é semana que vem — disse, respondendo à pergunta se estamos próximos de ter uma vacina.
Mariângela também falou que a OMS mantém um banco de dados sobre as vacinas, mas que não tem muitas informações sobre a que é desenvolvida na Rússia, diferentemente do que acontece com outras candidatas que já avançaram para a última etapa.
De acordo com a CNN, os russos alegam que a rapidez no desenvolvimento se dá porque ela foi uma versão modificada de outro imunizante criado para combater outras doenças.